sexta-feira, fevereiro 03, 2006

MINHA PRIMEIRA PROFESSORA

Minha primeira professora Vinícius Canhoto

Rute foi minha primeira professora. Pelo menos foi aquela que me ensinou a ler e escrever. As anteriores não eram professoras. No prezinho, temos tias. Meninas maravilhosas, belas como nossas primas e não como nossas tias. Creio que as chamávamos assim porque assim nos ensinaram, como colorir flores, frutas, animais; cantar aquelas antigas cantigas de roda; dançar coreografias; recortar; colar, etc. Em algum momento, não me recordo qual, alguma voz feminina disse: “Tia, não! Professora!” Daí em diante, perdemos aquelas moças de rostos bonitos, cabelos longos e sem varizes. Entretanto, voltemos a Rute, que era professora, que devia ter varizes, como minhas tias. Eu a conheci no dia da prova de admissão do Colégio Adventista (os adventistas como as testemunhas de Jeová merecem uma crônica à parte). Ela me entregou uma prova para alfabetizados e eu lhe disse que não sabia ler o que sabia havia esquecido. Naquela época devia ser apenas um copista. Fiz uma prova de coordenação motora e fui admitido. Me recordar do Colégio Adventista ainda me causa risos, quando me lembro de situações como rezar o pai-nosso todos os dias antes das aulas, cantar o hino nacional às segundas-feiras, colorir adãos e evas nas aulas de religião, matar marias-fedidas no recreio. Mas de tudo, duas coisas ficaram fortes em minha memória e vira-e-mexe me lembro delas. Uma é de como aprendi que m vem apenas antes de p e b. A cartilha assim dizia: Mamãe só pode andar acompanhada do Papai e do Bebê. Tal machismo gramatical nunca foi esquecido. Outra recordação era de um aluno que era perseguido pela professora. Ageu era adventista e pobre e, por conta disso, bolsista. Por conta disso, e de uma história de sapatos pedidos e não dados, era discriminado pela professora e, por conseqüência, pelos demais alunos. Eu me identificava com ele por também ser pobre, por também ter dificuldade de aprendizagem, por também ser um estranho. Quando minha mãe matriculou-me numa escola particular, a inveja invadiu a casa de todas as vizinhas que matricularam seus filhos também. Cada mãe usava seu filho como porta-voz e portfólio de nomes de escolas privadas. Elas agüentaram um mês de mensalidade, minha mãe um ano. Parece que foi ontem que ouvi minha mãe dizer: “Você vai sair da Adventista, mas não é pra falar pra ninguém que foi porque não agüentamos pagar”. Fiquei frustrado por não poder usar o uniforme novo, que de marrom passou a azul, por não ganhar mais presentes quatro vezes ao ano, dados pela escola e pagos por minha mãe, por não rezar o pai-nosso antes da aula começar, e por não ver um dos meus amores de infância Michele a quem eu dava purpurina. Mas também me senti aliviado de não ter de ir mais à escola de perua e levar tapas na testa de Maíras e Evertons. Mas sentia falta de Rute, apesar de não gostar de algumas de suas atitudes, e de Ageu com sua tubaína e pão com margarina, trazidos de casa numa lancheira vermelha, porque ele não tinha dinheiro para comprar pizza na cantina. De vez em quando, eu comovia minha mãe para que me desse um dinheiro a mais para comprar um sorvete também para o Ageu; e, na verdade, comprava os dois pra mim. No entanto, entre bons cristãos que todos nós éramos, nem Ageu, nem eu, aprendemos nas aulas de ensino religioso, ou nos sermões no salão nobre, a parábola da agulha e do camelo.
Vinicius Canhoto adverte: Crônica não é literatura. Leia com moderação.

Opinião da Dóris: Tremenda groselha, Vinícius!
Esbaldem-se de ler o rapaz.



quinta-feira, fevereiro 02, 2006

O VINÍCIUS DISSE QUE HOJE MANDAVA O TEXTO

Tô esperando até agora. Incrível o trabalho que esses groselhinhas me dão. Escritor adora essas coisas, sabiam? Eles vivem se queixando que não são publicados; aí, quando alguém os chama, mordem a ponta do lápis e gemem: "ai, hoje não, não vai dar, tô com dor de barriga, crise existencial, briguei com a minha namorada, o IPTU tá atrasado".
Sexta-feira vou encher a cara com o Vinícius e ele vai ver só uma coisa.