terça-feira, maio 01, 2007

MAMET & AS MÃES



David Mamet, no livro "Os três usos da faca", diz que o ser humano tem uma tendência natural a dramatizar. Por exemplo, dizemos: “Fiquei três horas esperando o ônibus!”, quando é óbvio que ninguém fica três horas no ponto, vai embora antes. Mas a mente humana adora um drama.
E isso que ele não conheceu minha mãe, que diz assim:
- Um dia vocês vão se arrepender, mas aí vai ser tarde demais, porque eu já vou estar morta, estendida num caixão!
Embora, como dramaturga, eu ainda prefira a mãe de um amigo meu, que tem essa tirada:
- Dia desses eu saio pela rua feito uma louca, e vocês nunca mais vão ouvir falar de mim!

O UISQUINHO DAS CRIANÇAS



Gabriel, 11 anos, chega ao restaurante com a família toda. Concentra-se no cardápio, procurando o que beber. Até que vira pro meu irmão e aponta, triunfante:
- Pai, olha só que legal! Aqui tem uísque pra doze anos!
Todo mundo cai na gargalhada, e ele fica furioso.

ETIQUETA


Uma amiga minha foi convidada prum jantar chiquérrimo, em hotel cinco estrelas. Era pra ser um programão, virou uma tortura:
- Cheguei lá, tinha uma lagosta inteira, e uns trezentos talheres que eu não sabia usar.
Confessamos que também não sabíamos.
- Mas numa hora dessas a gente improvisa... Só não vale desprezar a lagosta!
- Pois eu não consegui de jeito nenhum.
Nessa hora todo mundo tem sugestões:
- Por que você não chamou o maître?
- Por que não foi logo cortando o bicho com a faca mais afiada?
- Por que não perguntou pra alguém como é que fazia?
Pressionada de todos os lados, minha amiga confessou:
- Foi um horror. Fiquei lá, com cara de idiota, segurando aqueles malditos talheres, fingindo que não via a lagosta, e a lagosta olhando pra mim desesperada! Não deu, gente. Não deu.

CONVERSA NO SUMARÉ




O guardinha comenta com a empregada que varre a calçada:
- Mais um dia de sol que Deus dá pra gente! Ninguém dá valor, mas isso é importante, né?
- Ah, é importante sim. Nem me diga! – concorda a empregada.
Pausa.
- E nós nem merece – conclui o guardinha.