terça-feira, abril 03, 2007

MARIA ANTONIETA, RAINHA DA FRANÇA E FASHION VICTIM


Ontem fui ver "Maria Antonieta", da Sofia Coppola. E ainda bem que a Sofia (que além de ser filha de um dos meus deuses pessoais, tem no currículo dois filmes bem bacaninhas) fez esse filme para resgatar a injustiçada figura histórica da Kirsten Dunst - digo, da Maria Antonieta.
É um milagre a rainha da França ter sobrevivido pra ser guilhotinada, em 1793. Segundo o filme da Sofia, ela já deveria ter morrido há muito tempo. De tédio.
Ô vida chata que a Antonietinha levava naquela corte! Pobrezinha! Quer dizer, das duas uma: ou ela levava uma vida muito chata, ou a Sofia fez um filme muito chato. Uma hora eu levantei, fui ao banheiro, comprei pipoca, bati um papo com a moça da bilheteria... e quando voltei 'tava tudo igual. A Maria Antonieta estreando vestidos, passeando por Versailles, ou batendo papo com as peruas suas amigas.
Graças a Deus, aí veio a Revolução Francesa pra tirar a moça do tédio...
Mas foi exagero dos caras cortar a cabeça da moça. Um bom tanque de lavar roupa fazia o mesmo efeito.

Bom, é o que acontece quando você quer contar a vida de um personagem histórico... tirando ela da História.

MULHER + SEXO = ZERO


Estou lendo um romance de um desses escritores brasileiros que todo dia acorda revoltado porque não se chama Charles Bukowski nem mora na Califórnia. Um problema, né? Esses moços escrevem livros descascando a espécie humana em geral, e as mulheres em particular. Uns escrevem melhor, outros pior. Mas a substância é sempre a mesma: eu sou fodão, inteligente e gostoso; o resto do mundo é uma merda; todo mundo é babaca; e os mais babacas de todos são aqueles que tentam mudar o mundo.
Até que o autor em questão não escreve mal, tem uma coisa assim meio noir, sabe? mas o que eu fico observando (já que a história não é grande coisa, apenas um fio tênue ligando as ruminações existenciais do fodão) é que, dentro desse universo, o herói está sempre comendo um monte de mulher.
Isso é estranho, porque, em princípio, ele não gosta de mulher.
Não que seja gay: é só que ele não gosta de ninguém.
Por que então – pergunto – comer as mulheres? E todas, absolutamente todas?
A questão me intrigava, mas hoje tive um insight que responde essa pergunta. A substância do livro do Bukowski tropical é a seguinte: ninguém vale nada, todo mundo é insignificante e tolo. Na ficção (notem que digo na ficção), transformar os personagens masculinos em nada, num zero, é fácil. Já com as mulheres é um pouco mais difícil. É mais complicado tirar a humanidade de uma mulher do que a de um homem.
O único jeito de operar essa transformação é... comê-las! Uma vez que você foi pra cama com uma mulher (e todas as mulheres desejam ardentemente ir pra cama com o fodão. Não entendi porque, ele parece um cara tão desagradável) você já a desmoralizou, ela não é mais nem personagem, é um zero à esquerda... Vira “aquela putinha que eu comi” (não estou exagerando, é exatamente assim que o Bukowskizinho fala no livro).
O interressante é que essa operação tão pós-moderna de um autor tão hype é feita com o mesmíssimo mecanismo que vigora há milênios, no imaginário masculino. Vocês conhecem a cantilena, não é, meninas? As mulheres se dividem em duas categorias. Tem as fáceis, que vão pra cama com os caras e não valem grande coisa. Tem as sérias, candidatas a mãe-dos-meus-filhos. E, ah, é claro, tem uma terceira categoria: a senhora mãe deles.
Consumada esta manobra conceitual, o autor (e às vezes também o leitor) respira aliviado, porque aquela complexidade básica, aquele poço escuro sem fundo do feminino, que assusta escritores, padres e aiatolás, deixa de o ameaçar.
Ela é só uma putinha.
Mais ou menos como “ela é só uma garota gostosa na capa”, ou “ela é só aquela coitada de chador”.
Interessante. Muito interessante.

NHOQUES ME MORDAM!


Parecia tão fácil... Quando eu via Dona Conceição Diana, minha avó, amassando batata e farinha pra fazer os seus famosos nhoques, parecia a coisa mais simples do mundo.
Trinta anos mais tarde, eu já deveria ter desconfiado que não era tão fácil assim... Nunca mais comi nhoque que se comparasse ao dela.
Anteontem, entretanto, resolvi que ia fazer minha primeira tentativa de nhoque. Sou uma cozinheira bem razoável. Faço um trivial bacana, até arrisco uns pratinhos mais sofisticados. Não devia ser tão difícil...
Arranjei uma receita, fervi as batatas, abri a farinha e....
Duas horas depois lá estava eu, de pé, suando em bicas nesse outono do aquecimento global, lutando contra a maldita massa que se recusava a tomar forma. Enquanto eu amassava, várias coisas aconteciam. Pessoas entravam e saíam. O tempo passava. O telefone tocava. Minha filha foi dar uma voltinha, eu fiquei amassando. Ela voltou, eu continuava amassando.
Finalmente desisti, botei a maldita massa no lixo e comecei a limpar. Fiquei horas limpando as louças sujas, a mesa onde tinha feito a massa, meu avental, a sala onde eu me sentara alguns minutos... Limpei tudo, fui tomar um banho, e caí dura na cama. Dez a zero pro nhoque.
Hoje de manhã meu marido reclamou:
- Porra, tinha batata até no controle remoto.

Não, não desisti. Eu vou fazer de novo.
Tá, aprendi que a habilidade de fazer nhoque não é geneticamente transmitida. Mas eu vou tentar de novo!
Me dá só uma semana. Que esse danado vai ver uma coisa.

CALÇANDO A SANDÁLIA DA HUMILDADE


Quebrei meu dedinho do pé andando de salto alto numa trilha da Ilha Grande.
Pronto, já contei a parte mais embaraçosa. Agora vem o resto.
Paguei caro o meu ataque de peruíce! Fiquei com o pé enfaixado nesse calor horrível, foi um saco. Toda semana eu voltava no PS do São Luiz, ansiosa pra que o cara desse alta do meu dedinho, mas... nada. Ele simplesmente me mandava trocar a faixa. E lá ia eu de novo para o dedicado profissional encarregado de botar gesso, faixa, essas coisas. Acabamos até ficando chapinhas.
Teve um dia que cheguei me queixando que a perna doía.
- Isso acontece porque você força a perna, tentando andar direito - explicou o cara. - Até consegue, mas aí fica com dor.
- Mas como é que eu tenho de andar, então?
- Uai... mancando, né?
Olhei para ele, perplexa:
- Mancando?
- Mancando. Quem quebrou o pé, manca. Entendeu?

Entendi, entendi. Vale até pra outras coisas da vida...
Instantinho que eu vou ali, calçar as sandálias da humildade!