terça-feira, dezembro 05, 2006

MEUS MONSTROS PREDILETOS

Dóris Fleury

Todo mundo adora passar medo. Todo mundo! O sujeito pode levar um vidão, ter grana, namorada, carro bacana, um bom emprego... e mesmo assim paga pra sofrer duas horas no escuro, encolhidinho na poltrona, assistindo filme de terror. E quem não gosta de filme de terror adora os livros do Stephen King. E quem não curte Stephen King coleciona lendas rurais ou urbanas, contadas em volta da fogueira ou espalhadas feito vírus na Internet.
Ou seja, por maior que seja o progresso científico e tecnológico, o alcance da educação etc, a humanidade nunca vai desistir de um bom susto.
Como não tenho a pretensão de estar fora da humanidade, vou expor aqui uma lista de monstros, aparições e correlatos com os quais sempre convivi, em ordem crescente de medo. Vejamos.

- Lobisomens - Realmente não fazem minha cabeça. Que medo você pode ter de uma criatura que é, basicamente, um cachorrão? Joga um ossinho pra ele, pronto. Só cuidado com as pulgas...
Ah, e outra: nunca gostei de homem peludo.

- Maníaco Assassino - Que eu e minha filha apelidamos de MA. "Mãe, botaí um filme de MA pra gente rir", ela diz . Porque só rindo mesmo. Os MAs hoje em dia não dão medo nem em criancinha. Eles atacam sempre do mesmo jeito, com as mesmas facas deeeesse tamanho e nos mesmos momentos. Antes de começar o filme americano de MA, você já sabe quem vai morrer! (Os personagens que fazem sexo). Não tem a menor graça. MAs são bobos.

- O homem do saco - Personagem da infância de todo mundo, e também da minha. Mas só a bobona da minha irmã é quem tinha medo. Eu logo saquei que o velhinho era inofensivo.

- Bicho-papão - Agora eu já perdi o medo... Mas até os oito anos, estava convicta que ele morava debaixo da minha cama. Eu dormia com os pés bem encolhidos, pro bicho-papão não puxar! Inclusive ele é um monstro interessante porque não tem design. Você pode imaginá-lo do jeito que quiser, não é criativo? Eu via ele enorme, redondo, cheio de pêlos cinzentos, sem olhos... Se movia na escuridão. Quando eu perdia o sono ficava de olho aberto no escuro, morrendo de medo, acompanhando os movimentos do papão!

- Morto-vivo - Acreditem se quiser, eu tenho um amigo que está com mais de quarenta anos e tem medo de morto-vivo. Ele é fã do George Romero e acha que aquele filme foi baseado em fatos reais.
Eu até tenho um medinho, mas só se a maquiagem for muito bem feita.

- Vampiro - Um caso complicado de superexposição, como diriam os publicitários. Até uns vinte anos atrás, nada como um bom vampiro pra fazer o público tremer. Mesmo que fosse daqueles bem trash dos quadrinhos. Aí começou a festa da uva: vampiro no cinema, vampiro na televisão, vampiro nos livros da Anne Rice... Essa senhora aliás acabou com o vampiro, foi uma judiação. O vampiro dos livros dela é uma antipatia total. Um ser todo-poderoso, forte, bonito, inteligentíssimo, para o qual os humanos são meros fornecedores de pescoços. Um mala! Aí foi pro cinema; desastre total. Quem vai acreditar que o Tom Cruise e o Brad Pitt, tão bonitinhos! sejam vampiros? Não dava. Ms. Rice deveria ser processada pela Associação dos Apreciadores de Vampiros.
Claro que, de repente, um escritor ou diretor de cinema criativo ainda pode recuperar a imagem dos pobres bebedores de sangue, e construir uma história original, que provoque arrepios. Eu tenho minhas dúvidas... A essa altura, o vampiro, pra mim, já é metáfora do capitalismo globalizado. Neguinho te suga o sangue e você ainda tem que gostar.

- Fantasmas - E por falar em metáforas. Fantasma nunca sai nunca da moda, porque é uma metáfora poderosa. Ele é a expressão do desejo humano de se comunicar com os mortos. Claro que é bom evitar os clichês, mas ainda tem muita gente que consegue dar um sustões com fantasma! Vocês viram Os Outros, com a Nicole Kidman? Se não viram, aluguem urgentemente o DVD. Recomendo também a última safra de fantasmas japoneses. Gente, é de engasgar com o sushi!
Fantasma em geral evita a superexposição que vitimou o vampiro. Demora horas para aparecer, e antes se manifesta como uma porta batendo, um sussurro na madrugada, um objeto que cai, um porta-retratos estilhaçado... Brrr! Já sentiram o arrepio? Na melhor história de fantasma que já li, Outra volta do parafuso, os fantasmas só aparecem uma vez! O resto é clima. Nossa, eu adoro um fantasma!

- A loira da gilete - No capítulo lenda urbana, essa era a melhor. Corria na década de 70, acho que depois teve uma versão atualizada na década de 80, então muita gente ainda deve lembrar. Era uma loira belíssima, que estrelava um comercial de gilete na TV. Aí tinha uma história de que ela tinha se suicidado e assombrava os banheiros das escolas, onde aparecia... como é que era mesmo? acho que com uma bandagem no pescoço, um troço assim. (Ou seria algodão?) Eu sei que parece uma baboseira inacreditável, mas a coisa pegou tanto, na época, que no meu colégio já tinha neguinho se recusando a ir sozinho ao banheiro. E até hoje, pra falar a verdade, essa história me deixa com arrepio. Duplo brrr!
Ah, também gosto do cara que acordou na banheira cheia de gelo sem rim! (ou era fígado, hein?).

- Zé do Caixão - Morro de medo até hoje. Ele tinha um programa na TV, que minha mãe não me deixava assistir; só de ver a chamada eu já fazia xixi nas calças. Aliás, encontrei ele pessoalmente no lançamento de Necrópole - Histórias de Fantasmas.É um velhinho encantador, mas por via das dúvidas não cheguei muito perto.

Bom, essa é a minha lista pessoal. Mas cada um tem a sua, né? E enquanto a gente fica com medo de vampiros, fantasmas e lobisomens, não pensa no George Bush nem no aquecimento global. De modo que de certa forma os monstros têm sua utilidade. E uma vida sem monstro, de forma geral, não teria muita graça.