segunda-feira, abril 09, 2007

O PSY E O CONFLITO DE GERAÇÕES: UM PROBLEMA ODONTO-MUSICAL




Entramos no carro pra ir ao médico, em Santo Amaro. E antes que você possa dizer "trânsito horrível", ela já sacou da bolsa seus CDzinhos mal-ajambrados, sem capa, com o título escrito com caneta Pilot. Piratão mesmo.
- Eu escolho os CDs na ida, você escolhe na volta.
No começo ela até pega leve: Sinéad O'Connor, Chico Buarque. Aí, chega o momento que eu temia.
- Um psy da hora.
- Ai, meu Deus, eu não mereço...
Já era. Os sons infernais enchem o carro. Respiro fundo, procuro me lembrar do meu pai que odiava rock, mas, porra!
- Marília, eu até entendo que você queira ouvir esse troço pra dançar. Mas aqui? Sentada no carro? Parada?
- É legal do mesmo jeito.
- Não, não é. É um saco. Fica horas tocando a mesma coisa, com essa batidinha e o sintetizador vagabundo no fundo.
- Você não entende disso. - E lá vou eu, pela Santo Amaro congestionada, em plena tarde de terça-feira, ouvindo aquela batidinha retardada.
- Olha agora! - diz a Marília, em determinada altura – Olha só esse sintetizador...
- Marília, esse troço parece motor de dentista!
- Ah, mãe! Não zoa, vai!
- Igualzinho! Minhas obturações reconhecem, tá ligada?
- MÃE!
Ela ficou furiosa, problema dela. Odeio psy! Na volta, só toquei Morrissey.

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