terça-feira, abril 03, 2007

MULHER + SEXO = ZERO


Estou lendo um romance de um desses escritores brasileiros que todo dia acorda revoltado porque não se chama Charles Bukowski nem mora na Califórnia. Um problema, né? Esses moços escrevem livros descascando a espécie humana em geral, e as mulheres em particular. Uns escrevem melhor, outros pior. Mas a substância é sempre a mesma: eu sou fodão, inteligente e gostoso; o resto do mundo é uma merda; todo mundo é babaca; e os mais babacas de todos são aqueles que tentam mudar o mundo.
Até que o autor em questão não escreve mal, tem uma coisa assim meio noir, sabe? mas o que eu fico observando (já que a história não é grande coisa, apenas um fio tênue ligando as ruminações existenciais do fodão) é que, dentro desse universo, o herói está sempre comendo um monte de mulher.
Isso é estranho, porque, em princípio, ele não gosta de mulher.
Não que seja gay: é só que ele não gosta de ninguém.
Por que então – pergunto – comer as mulheres? E todas, absolutamente todas?
A questão me intrigava, mas hoje tive um insight que responde essa pergunta. A substância do livro do Bukowski tropical é a seguinte: ninguém vale nada, todo mundo é insignificante e tolo. Na ficção (notem que digo na ficção), transformar os personagens masculinos em nada, num zero, é fácil. Já com as mulheres é um pouco mais difícil. É mais complicado tirar a humanidade de uma mulher do que a de um homem.
O único jeito de operar essa transformação é... comê-las! Uma vez que você foi pra cama com uma mulher (e todas as mulheres desejam ardentemente ir pra cama com o fodão. Não entendi porque, ele parece um cara tão desagradável) você já a desmoralizou, ela não é mais nem personagem, é um zero à esquerda... Vira “aquela putinha que eu comi” (não estou exagerando, é exatamente assim que o Bukowskizinho fala no livro).
O interressante é que essa operação tão pós-moderna de um autor tão hype é feita com o mesmíssimo mecanismo que vigora há milênios, no imaginário masculino. Vocês conhecem a cantilena, não é, meninas? As mulheres se dividem em duas categorias. Tem as fáceis, que vão pra cama com os caras e não valem grande coisa. Tem as sérias, candidatas a mãe-dos-meus-filhos. E, ah, é claro, tem uma terceira categoria: a senhora mãe deles.
Consumada esta manobra conceitual, o autor (e às vezes também o leitor) respira aliviado, porque aquela complexidade básica, aquele poço escuro sem fundo do feminino, que assusta escritores, padres e aiatolás, deixa de o ameaçar.
Ela é só uma putinha.
Mais ou menos como “ela é só uma garota gostosa na capa”, ou “ela é só aquela coitada de chador”.
Interessante. Muito interessante.

2 comentários:

Anônimo disse...

legal

Giovani Iemini disse...

Oi, Dóris.
Quem é este autor que vc leu? Emerson Wiskow? Bem, ele lembra o que vc contou...

Mas disconcordo de vc em relação ao bom e velho bukowski. acho que vc nao o leu percebendo o fundo do texto. ele realmente destrata tudo, mas é por pena de perceber coisas tão boas sendo desperdiçadas. E as mulheres sempre foram um enigma para ele que, segundo o próprio, só foi chupar uma boceta aos 53 anos.
Putz, como ele conseguiu viver tanto tempo sem uma?
Enfim, ele reclamava mas tb demonstrava a tristeza de não possuir a capacidade daqueles de quem ele ironizava.
Uma contradição. e por isso tão bom.

Bem, vc viu minha outra msg sobre o bar do escritor?
[]s