terça-feira, setembro 19, 2006

16 de setembro de 2006

Ontem tivemos um jantar caprichado aqui na Ledig House. Veio inclusive a cozinheira tailandesa, que fez pratos deliciosos. Tínhamos um convidado especial: o editor alemão Wolfgang Ferchl, que representa um dos patrocinadores da casa.
Só hoje de manhã fiquei sabendo que o homem também é editor do João Silvério Trevisan na Alemanha (Ana em Veneza).

Esteve também aqui um editor de Nova York e a mulher dele, interessantíssima, Judith Thurman. Escreve pro New Yorker, esteve na Flip de Parati há dois anos.
Essa mulher biografou um ídolo meu: a escritora francesa Colette. Também escreveu uma biografia de muito sucesso sobre Karen Blixen ou Isaak Dinesen (a escritora de Out of África). Mas o seu próximo projeto eu achei mais fascinante ainda. Ela quer biografar uma amiga sua que nunca foi famosa; uma mulher que se casou com um de seus primos e terminou se suicidando. Seu nome era Laura e ela era transexual.
Laura começou a vida como homem, e depois se tornou uma mulher absolutamente fascinante, linda, do tipo que deixa os homens babando. “Ela com certeza era mais mulher do que eu”, resume a Judith. Fez a operação de mudança de sexo, cem por cento bem-sucedida. E, alguns anos depois, se matou.
Parece que existe uma taxa altíssima de suicídios entre transexuais que fazem a famosa operação. Por quê? perguntei eu. Por acaso eles se arrependem? Não, respondeu a Judith, não é o caso de se arrepender. O problema é que passam a vida inteira sonhando com isso. Idealizam o dia em que finalmente não se sentirão mais presos num corpo de homem... Acham que ser mulher é a coisa mais maravilhosa do mundo, um estado superior do ser humano.
E aí se tornam mulheres (ou algo bem próximo), e descobrem que elas também têm problemas, angústias, desilusões amorosas etc.
Seja como for, essa mulher, a Laura, parece ter sido uma personalidade fascinante. Nunca foi à escola, vinha de uma família pobre de portorriquenhos, mas era muito inteligente. No seu enterro, um dos seus irmãos – um ex-Marine tatuado da cabeça aos pés – fez um discurso fúnebre maravilhoso, sem usar um só pronome pessoal. Nem “ele” nem “ela”.
A maioria das pessoas que estavam ali não sabia que Laura já tinha sido um homem.
O projeto me pareceu incrível, uma puta idéia. Até hoje não desisti de fazer jornalismo literário, que era meu sonho na faculdade... Um dia, quem sabe?

Nenhum comentário: