terça-feira, setembro 26, 2006

20 de setembro de 2006

Meu romance está chegando ao fim e isso me assusta. Achava que no máximo ia dar uma boa adiantada... Mas um terço do livro, na verdade, já estava pronto quando eu cheguei aqui.
Esse livro está parado há um ano. Eu achava que o projeto estava em coma. Mas este tempo todo ele estava sendo escrito na minha cabeça. Quando você é escritor, boa parte de suas escolhas acontece em nível subconsciente. Tive essa oportunidade pra escrever e a coisa veio automaticamente.
Na Ledig House, me impus um ritmo de dez páginas por dia. Nessa toada, qualquer um acaba um livro rapidinho. Mas tem seus custos. Não tive um dia de descanso desde que cheguei aqui. Em algum momento vou ter que tirar um dia de folga. Estou exausta. Preciso parar de escrever à noite, pelo menos o romance. Ficar escrevendo me deixa ligadona, e depois não consigo dormir.
Enquanto isso, muitos dos meus colegas estão flanando. Mas a organização não se importa, acha que faz parte. A filosofia aqui não é de campo de trabalhos forçados. E faz sentido, pensem bem: como é que você vai pedir a um poeta, como o Armin ou a Anzhelina, que sente ao computador e escreva o tempo todo? Seria ridículo.
Nem ficcionistas não funcionam desse jeito. O Luis, aquele espanhol que já foi embora, veio aqui para fazer apenas o planejamento de seu próximo romance.
Uma vez pronto, não sei o que vou fazer com o livro. Já estou vendo o seu triste destino. As editoras especializadas em ficção científica, fantasia, etc, vão torcer o nariz, achando que ele é muito “cabeça”; que não é coisa pra nerd, enfim. As editoras sérias, só de ouvir a expressão “ficção científica”, vão tampar o nariz, porque isso não é coisa de escritor “sério” nesse país. Estou fodida e mal paga.
Mas não importa; mesmo assim, estou feliz com o que escrevi. É um livro que acontece em muitos níveis, uma ficção científica escrita sob o ponto-de-vista feminino (de várias mulheres, as mais diferentes possíveis), com uma narrativa pouco convencional, de várias vozes, e que acontece em muitos lugares do mundo ao mesmo tempo. Se tudo der certo, meus leitores começarão o livro achando que estão lendo FC; no meio dele, descobrirão outros sentidos para a história.
Da próxima vez, quero escrever um romance “de verdade”, bem compacto, só pra provar a mim mesma que sei fazer isso. Depois volto para meu objetivo literário, que é borrar de bagunçar estruturas.
Tem tanta coisa pra fazer, que às vezes eu me pego pensando: porra, já tenho 44 anos! Será que consigo fazer tudo isso? Que bosta! E se eu morrer antes? Já imaginou a sacanagem?

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